O traficante Uilian Conceição de Santana, 24 anos, foi enterrado na manhã desta terça-feira (15), no cemitério Bosque da Paz, na Estada Velha do Aeroporto. A morte dele teria sido o motivo do toque de recolher em diversos bairros de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador (RMS). Conhecido como Cabeça ou Beça, e membro do Bonde do Maluco (BDM), segundo a polícia, Uilian morreu nesta segunda-feira (14), baleado numa suposta briga de trânsito, em Catu de Abrantes, localidade de Camaçari.
Ainda nesta terça, o comércio nos bairros do Centro, Chafariz, Ipitanga e Lagoa dos Patos voltou à rotina e os coletivos voltaram a circular onde antes foram proibidos pelo tráfico de drogas. O policiamento foi reforçado. No entanto, uma escola municipal da Lagoa dos Patos permaneceu fechada. A unidade de ensino fica na Rua Manoel Paranhos, onde Uilian morava. Segundo policiais militares ouvidos pelo CORREIO, os traficantes disseram que não haveria aula em sinal de luto à morte de Uilian.
Muros da região amanheceram pichados em homenagem ao traficante. Em uma das inscrições, lia-se as iniciais BDM. A polícia investiga a relação das ações de Lauro e em outros seis bairros na capital com a morte de Marcelo Batista dos Santos, o Marreno, 30, considerado um dos líderes do BDM, morto na quarta-feira passada em confronto com a polícia na Linha Verde.
O toque de recolher em Lauro aconteceu cinco dias depois que cinco bairros de Salvador também passaram pela mesma situação. Boca do Rio, Imbuí, Stiep, Tancredo Neves e São Cristóvão tiveram os estabelecimentos comerciais fechados e a interrupção do serviço de transporte público.
Sepultamento vigiado
O enterro de Uilian aconteceu pouco depois das 11h desta terça. Segundo a polícia, ele morreu com vários tiros, disparados por um homem que estava em um carro após uma suposta discussão de trânsito no Km 10 da Linha Verde, por volta das 5h desta segunda (14).
Apontado pela polícia como líder do tráfico na região da Lagoa dos Patos, Uilian teve em seu enterro pouco mais de 40 pessoas, presentes no salão de velório número IV. O CORREIO esteve no local, mas foi impedido de acompanhar a cerimônia.
A poucos metros, cinco policiais militares do Pelotão de Emprego Tático Operacional (Peto), além de dois tenentes da unidade, à paisana, observavam atentos a movimentação no velório. Perguntado o motivo da presença deles no cemitério, um policial respondeu: “Policiamento de rotina. Nada de anormal”.
Questionados se a presença seria motivada pelo enterro de Uilian, cuja morte teria causado o toque de recolher na cidade da RMS, outro policial respondeu: “Eu nem sabia que ele seria enterrado aqui. Sabendo por você agora”.
Os policiais chegaram em duas viaturas, ambas posicionadas perto de um ônibus usado para trazer a família e amigos de Uilian ao Bosque da Paz. A equipe de reportagem soube do enterro de Cabeça ainda em Lauro, por volta das 10h, após ser avisada por três policiais militares que faziam ronda na cidade.
Pichações
Quem acordou na Rua São Miguel, próxima à Rua Emanuel Paranhos, notou algo diferente. Muros de casas, estabelecimentos comerciais e prédios amanheceram pichados com homenagens ao traficante morto.
“Luto eterno”, “Luto Beça”, “Luto Beça eterno no coração”, além da sigla “BDM” foram escritas em sinal de luto. “Não sei quem fez isso aí, mas não estava ontem”, disse um morador, que não quis se identificar.
Outro morador, no entanto, contou que os autores foram traficantes da área. “Eles chegaram de madrugada e fizeram isso. Tem uma escola lá dentro que não teve aula hoje por causa da morte do chefe de lá. Eles também disseram que não ia funcionar”, disse.
A escola fica na Rua Emanoel Paranhos e não tem identificação visível. Os moradores disseram que a escola é municipal e chama-se Escola Municipal Lagoa dos Patos, mas não quiseram dar detalhes sobre o motivo de estar fechada. A assessoria da Secretaria Municipal da Educação de Lauro de Freitas não foi encontrada para confirmar a informação.
Normalidade
O comércio amanheceu de portas abertas na cidade. Os principais pontos onde foi imposto o toque de recolher, na segunda, a exemplo do Centro, Ipitanga, Vila Praiana, Chafariz e Lagoa dos Patos, principal reduto de Uilian, amanheceram com viaturas em pontos fixos e outras circulando.
“Abri porque todo mundo abriu, caso contrário, não faria”, disse a dona de um restaurante na Lagoa dos Patos. “Ontem (segunda), mandaram a gente fechar. Subiram uns rapazes armados gritando que era para fechar tudo. E fechei. Mas só foi ontem. A polícia passa aqui toda hora e resolvi abrir”, declarou a dona de um mercadinho.
“A gente só voltou a trabalhar porque estamos vendo a polícia aqui, mas não sabemos até quando, né?”, informou a funcionária de uma farmácia da Vila Praiana.
Autoria: Correio da Bahia