Sete meses após deixarem o Brasil para um trabalho que acabaria lhes colocando na cadeia, os quatro velejadores de um barco flagrado com cocaína escondida no casco foram condenados a dez anos de prisão em Cabo Verde. O juiz determinou a sentença às 6h desta quinta-feira (29), 8h no horário de Cabo Verde.
Foram condenados os baianos Rodrigo Dantas e Daniel Dantas, o gaúcho Daniel Guerra e o capitão da embarcação, o francês Olivier Thomas. Os réus alegam terem sido vítimas de uma armadilha, que foram contratados apenas para transportar o veleiro e que não sabiam que o barco transportava droga.
“Hoje meu sobrinho estava esperando ouvir do pai ‘vamos para casa’, mas ele teve que escutar ‘é, meu filho, tenha paciência, que a gente vai ter que continuar lutando’”, disse tocada Adélia Araújo, tia de Rodrigo. Segundo ela, a família pretende recorrer da decisão e a estratégia está sendo discutida entre os advogados. “Além disso, vamos pedir o cancelamento do julgamento por cerceamento do direito de defesa”, contou a familiar.
Os parentes dos brasileiros não se conformam com o fato de o juiz não ter aceitado o depoimento de testemunhas de defesa por videoconferência e muitos menos acatado a conclusão de um relatório que foi produzido pela Polícia Federal brasileira, que investigou o caso e apontou na direção da inocência dos quatro réus. Na opinião da família o julgamento foi tendencioso e cheio de ilações.
“Tem o dono da empresa em que o barco ficou mais de um mês reformando, o diretor da escola em que meu sobrinho estudou em Ilhabela (SP). Ninguém tem dinheiro para levá-los até Cabo Verde, não é como se fosse num bairro vizinho”, protestou a tia. Além disso, ela citou o inquérito da Polícia Federal, que aponta que não tinha como os brasileiros saberem da droga escondida. “Era um documento de 600 páginas feito pela Superintendência da Polícia Federal, não era um documento encomendado pela família a um guarda qualquer”, disse.
Outro tio de Rodrigo, Alex Coelho revela que o inquérito da Polícia Federal aponta que o barco passou quase um ano no Espírito Santo antes de chegar a Salvador, onde a cocaína teria sido colocada. “De março a julho, já em Salvador o barco ficou fazendo um suposto conserto. Eles deixaram a droga descansando para que os velejadores não sentissem o cheiro”, complementa o homem. A droga estava escondida sob camadas de concreto e resina.
O grupo permanecerá preso em celas de segurança máxima. O Ministério das Relações Exteriores informou em nota enviada ao Jornal CORREIO que a “Embaixada do Brasil em Praia acompanha o caso dos brasileiros Daniel Felipe da Silva Guerra, Rodrigo Lima Dantas e Daniel Ribeiro Dantas desde sua detenção e mantém contato com as autoridades cabo-verdianas e com as famílias dos brasileiros, prestando-lhes a devida assistência consular e mantendo-os informados a respeito do andamento do caso”.
Relembre o caso
O grupo de três brasileiros e um francês foi contratado para transportar um veleiro de Salvador até a Ilha dos Açores, em Portugal, através da empresa de recrutamento e terceirização de mão de obra Yacht Delivery Company, cuja sede fica na Holanda. A embarcação pertence a um inglês, conhecido como George Saul, que só foi apresentado à tripulação na véspera da viagem. Ele está sendo procurado pela Interpol.
O barco passou por duas fiscalizações da Polícia Federal em Salvador e em Natal, antes que deixasse o Brasil. Ao chegar na cidade de Mindelo, na Ilha de São Vincente, em Cabo Verde, passou por nova inspeção e a droga foi encontrada.
Autoria: Correio da Bahia