A produção de beiju e de outros produtos derivados da mandioca, realizada na Casa de Farinha Comunitária do Quilombo de Cordoaria, situado no distrito de Vila de Abrantes, ganhou um suporte pra lá de especial. É que a Prefeitura de Camaçari, por intermédio da Secretaria do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Sedur), lançou, o Projeto IGI (que significa árvore em Iorubá) – que consiste na entrega de material lenhoso (madeira) para as beijuzeiras da comunidade quilombola.
A iniciativa, realizada pela Coordenação de Planejamento Ambiental da Sedur, impede que ocorra, por parte das beijuzeiras, o desmatamento para a produção de lenha, material necessário para o preparo do beiju e seus derivados na comunidade. A madeira entregue é resultado da retirada de vegetação em outras áreas da cidade, que passaram por terraplanagem para instalação de empreendimentos.
O projeto IGI é uma proposta de preservação da Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes Ipitanga na Comunidade Tradicional de Cordoaria, em função da educação ambiental, plantio de mudas nativas e reaproveitamento de material lenhoso, que seria descartado, oriundo de Autorização de Supressão de Vegetação (ASV). Em contrapartida, as beijuzeiras e seus familiares, após passarem por capacitação, irão ajudar no reflorestamento da mata ciliar, com o plantio de mudas nativas.
Segundo o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), a ASV é o instrumento que disciplina os procedimentos de supressão de vegetação nativa em empreendimentos de interesse público ou social submetidos aos órgãos de gestão pública ambiental. Ele busca garantir o controle da exploração e comercialização da matéria-prima florestal efetivamente explorada nos empreendimentos licenciados.
O lançamento é simbólico, uma vez que, desde o mês de outubro, as ações que compõem o projeto vêm acontecendo. De acordo com o coordenador de Planejamento Ambiental da Sedur, Gilberto Souza, esse é um projeto piloto, no qual essa é a terceira entrega de madeiras. No total, cerca 30 metros cúbicos de material (aproximadamente seis caminhões carregados), já foram entregues na comunidade de Cordoaria. A intenção é ampliar a ação para beneficiar outras localidades. Para isso, está sendo realizado um mapeamento prévio.
Para as beijuzeiras, que são remanescentes do Quilombo de Cordoaria, a iniciativa é muito bem-vinda e beneficia tanto as que usam a Casa de Farinha Comunitária, quanto as que produzem em suas casas, com forno próprio. No total, são 23 produtoras, que revendem os produtos nas feiras itinerantes da agricultura familiar espalhadas pelo município.
De acordo com Maria de Lourdes Gomes, 65 anos, moradora do local há 28 anos, o Projeto IGI trouxe, acima de tudo, um alívio para elas, pois ir pegar a madeira na mata era a parte mais cansativa e que demandava mais tempo na produção. "Com isso, agora, temos mais tempo disponível para produzir mais e, assim, aumentar a renda".
Ainda de acordo com a beijuzeira, essa é a primeira vez que uma gestão toma esse tipo de iniciativa, que consiste em: preservar o meio ambiente aliado ao suporte dado às comunidades tradicionais na produção de suas mercadorias. "Estamos muito felizes e agradecidas por isso. É uma ajuda e tanto", destacou.
Na oportunidade, a equipe de Coordenação de Planejamento Ambiental da Sedur escolheu um terreno na localidade para a estocagem da madeira. Outra ação paralela que estava acontecendo foi a construção de um novo forno na Casa de Farinha Comunitária, realizada em parceria com o Instituto de Permacultura da Bahia, o que vai aumentar a capacidade da produção de beijus.
Autoria: CT/ ASCOM