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Publicado em 12/05/2022 21h43

Uso de cosméticos vencidos gera reações alérgicas e queimaduras

PERIGO

 

Autor: Jane Fernandes


 
Dermatologista Irene tem recebido no consultório  casos  de irritação até queimaduras
Dermatologista Irene tem recebido no consultório casos de irritação até queimaduras - 
 

 

Os itens de maquiagem costumavam durar longos períodos na casa de Roberta Bastos, doceira, 34 anos, pois ela não usa cotidianamente. Com o distanciamento social imposto pela pandemia de Covid-19, a utilização dos produtos ficou ainda menor. O prazo de validade não era uma preocupação até o dia que ela ficou com os olhos irritados após aplicar uma máscara de cílios. 

Era final de 2020, primeiro momento de queda de casos em Salvador, e Roberta foi a uma festa de aniversário. Acabou removendo o produto ainda na casa da amiga, mas no retorno foi conferir a validade, que tinha apagado com o tempo. Coincidência ou não, ela achou o cheiro alterado quando foi conferir o produto com maior atenção. Desde então, a doceira sempre fica atenta na hora da compra e prioriza embalagens com os dados em relevo, para que não desapareçam. 

O desconhecimento sobre os riscos de utilizar cosméticos fora da validade ficou em evidência nos últimos meses, com o retorno progressivo à vida como ela era antes da pandemia. No consultório da dermatologista Irene Spinola, da Clid, ela tem recebido casos que vão de irritação primária a queimaduras capazes de deixar manchas escuras na pele, tudo causado pelo uso inadequado de produtos abertos há muito tempo. 

A médica lembra que nos medicamentos e alimentos constam duas informações diferentes de validade, uma considerando a data de fabricação e a outra indicando a duração do produto após a abertura. “Na cosmética, cosmiatria e cosmetologia a gente não tem isso no Mercosul, então a gente tem a validade do produto no blister, às vezes na caixa, mas sem essa diferenciação do pós-aberto, que seria muito importante”, comenta. 

Conforme definido pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), “a validade é contada a partir da data da fabricação. A empresa pode informar na embalagem a data de fabricação e indicar o período de validade (exemplo: ‘Fabricado em 06/01/2020. Validade: 24 meses’) ou colocar apenas a data de validade. O prazo de validade do produto a partir da data da abertura da embalagem não é obrigatório na rotulagem de cosméticos”. 

“A gente não deve usar um produto que esteja fora da validade porque ele tem substâncias químicas que alteram a sua composição de acordo com a luz que elas recebem, a temperatura que elas recebem, além da degradação que as substâncias químicas sofrem com o passar do tempo”, enfatiza Irene. Ela acrescenta que o ambiente onde o produto fica guardado pode acelerar as alterações, o que pode gerar desde a perda de eficácia até reações com diferentes graus de gravidade.

“Às vezes, a gente tem o creme fechado, sem uso, no banheiro, que é onde a gente guarda muito produto de cosmiatria e cosmetologia, mas é um lugar quente e úmido, um lugar inadequado para guardar esse tipo de produto. Se ele fica num lugar quente e úmido, pode aumentar o risco de ter bactérias e fungos, a gente pode diminuir a capacidade antioxidante dos conservantes, então fica um produto mais agressivo, mais capaz de irritar a pele, isso é uma coisa muito séria”, alerta a dermatologista. 

A especialista ressalta a maior sensibilidade de algumas áreas, como a mucosa labial e as pálpebras, que contam com barreira cutânea mais frágil. “A pálpebra tem uma das peles mais finas do corpo, então reage rapidamente”, explica. Em regiões com pele mais grossa, como os pés, por exemplo, o risco de reação é reduzido, geralmente requerendo a exposição por tempo mais prolongado e/ou a uma quantidade bem maior do produto em questão. 

Filtro solar

Embora itens de maquiagem e cremes em geral chamem mais atenção quando falamos dos riscos oferecidos à pele após o vencimento, Irene lembra que o mesmo se aplica a produtos como o filtro solar, shampoos, perfumes e esmaltes, entre outros. Às vezes o filtro solar é abandonado no carro por meses e depois volta a ser utilizado, cita a médica. Nesse caso, mesmo que não provoque uma irritação, certamente a capacidade de proteger contra os raios nocivos já foi perdida. 

“Com o shampoo também pode acontecer a mesma coisa, no sol ele degrada e pode dar irritação no couro cabeludo, provocando coceira, descamação, desconforto… e a pessoa acaba ficando sem saber o que é”, comenta a especialista. Quanto aos perfumes e cosméticos importados, uma dica é observar se consta a informação de validade após abertura, que estará indicada por um número e uma letra. Uma validade de seis meses estará expressa como 6M, por exemplo. 

Os riscos oferecidos por produtos inadequados para uso irão variar de acordo com o perfil do usuário. Pessoas com alergia prévia, atopia (condição que fragiliza a pele),  xerose cutânea (pele muito seca) estão no grupo com maior sensibilidade. “A pele não absorve tudo que a gente aplica nela, quando está íntegra ela nos protege de quase tudo, mas muitas vezes não está (íntegra)”, adverte a médica. 

As crianças, mesmo com pele normal, apresentam maior tendência a reações alérgicas, diz Irene. Por conta da pele mais seca, os idosos também pedem atenção especial, assim como as gestantes, nas quais alguns produtos, mesmo com validade segura não podem ser utilizados. Um alerta dela é quanto ao real significado de hipoalergênico: “é um produto menos capaz de gerar alergia, mas não é isento de risco. Não existe nada que você diga isso é 100% garantido”. 

Autoria: A TARDE

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